Vintecinco Versos #1

22:09 Daniele Vintecinco 0 Commentários




Hoje estou aqui para algo diferente, uma coluna nova, que será postada uma vez por mês a cada dia 25, e se chamará Vintecinco Versos. 
Nesta coluna trarei poemas que entraram em minha vida e me marcaram, de muitas formas possíveis, ou por sua sonoridade, ou por seu significado, ou pela leveza de suas rimas e de seus versos. Não, não sou muito romântica, mas sou daquelas que acreditam que um poema pode te fazer ver e sentir coisas que um texto em prosa não consegue, então porque não trazer isso para vocês também? Nem que seja uma pequena dose a cada mês. 
Neste post de estreia decidi trazer um dos meus poetas preferidos com uma de suas poesias mais conhecidas, e que eu simplesmente amo. 
Manuel Bandeira (Recife, 19 de abril de 1886 - Rio de janeiro, 13 de outubro de 1968) foi um poeta que marcou minha formação, ele fez parte da geração de 1922 (da literatura moderna), passou uma boa parte de sua vida desenganado por causa da tuberculose, e isso guiou um bom trecho de sua obra (uma grande parte, mas não toda, ele trata de outros temas também), suas dores, desilusões e desenganos são representados de forma tão bonita, que nos faz pensar também, nos faz sentir em cada letra, e isso não é ruim, é poesia.
Na que vou trazer hoje, são versos que mostram o desejo de fuga para um lugar melhor, outra realidade e uma grande nostalgia, sentimentos latentes na poesia de Bandeira devido a sua doença. Para mim é a representação de um lugar melhor (e que não busca isso?).

VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa e demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água

Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada


Curiosidade: para quem quer saber o que é Pasárgada, aqui a explicação pelo próprio Bandeira: 
Vou-me embora pra Pasárgada” foi o poema de mais longa gestação em toda minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias [...]. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”.



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