[Resenha] O Doador de Memórias

15:00 Daniele Vintecinco 0 Commentários



Confesso que fico um pouco receosa quando o assunto é distopia, não me entendam mal, eu gosto muito do gênero e talvez por isso seja tão chata em relação a ele. Quando vejo uma distopia o cenário tem que me convencer, os elementos empregados têm que ter um fator verossímil, uma crítica à sociedade plausível e poder ser uma demonstração do futuro, exagerada, aumentada e catastrófica, mas ainda sim passível de entender os meios que guiaram o destino dessas pessoas.

Com O Doador de Memórias o cenário me ganhou, é possível entender todos os mecanismos que levaram ao futuro demonstrado pela autora, a execução distópica foi boa, mas seu aprofundamento deixou a desejar.

Neste livro acompanhamos a história de Jonas, uma criança de 11 anos (prestes a completar 12) que vive sobre as regras restritas de sua sociedade. Sua realidade é cheia de regras e códigos de condutas, ele mora em uma unidade familiar com pai, mãe e uma irmã designados (na verdade as unidades familiares possuem basicamente a mesma estrutura), as pessoas vivem quase da mesma forma, mudando poucas coisas, já que a sociedade não preza pelo diferente: todos completam anos na mesma data, tem suas evoluções definidas por períodos, enfim, estou aqui me matando para descrever uma sociedade apática, que vive para cumprir os papéis que foram indicados a cumprir, e esse é todo o mundo de Jonas. O garoto está prestes a passar pela sua cerimônia e se tornar um 12, quando ele finalmente terá uma Atribuição escolhida e neste momento sua vida toda irá mudar e ele irá descobrir a verdade por trás de sua sociedade meticulosamente planejada.

O livro é curto e a narrativa tem um ritmo bom e fluído, a autora apresenta todos os aspectos da sociedade e os dramas que cercam os personagens, mas é aí que fiquei um pouco decepcionada, ele apresenta bem tudo mas não se aprofunda, a cenário criado por ela tem um imenso potencial, pessoas que vivem por regras rígidas, tão apáticas sobre a vida (tanto que definem o lugar onde moram como Mesmice), os cenários não possuem cores, as pessoas não possuem sentimentos, enfim, há vários pontos que poderiam ser tratados mais de perto pela autora, como relacionamentos inexistentes, amizades superficiais, famílias programadas além do tratamento ao próprio personagem principal.

Assim como a narrativa os personagens sofrem do mesmo mal, entendo que nos personagens coadjuvantes não há muito o que explorar já que são rasos demonstrando e incorporando o meio em que vivem, mas Jonas já é considerado adulto e apto para um trabalho com apenas 12 anos e é escolhido para um dos deveres mais difíceis e de mais responsabilidade de todos e mesmo assim a autora não explora toda a complexidade tanto dele como do próprio Doador de Memórias.

Ah, e para aqueles que, como eu, assistiram ao filme antes de ler o livro o final é totalmente frustrante (na verdade acho que essa é a sensação para todos os leitores, mas para aqueles que viram a adaptação a frustração é maior). Ps: não concordo com a necessidade de adicionar no livro uma entrevista com Taylor Swift (atriz do filme) comercialmente entendo que possa atrair mais leitores, mas como obra literária não há grandes acréscimos.

Apesar dos meus comentários anteriores ainda afirmo que por toda sua estrutura O Doador de Memórias é uma distopia com um bom potencial, e levando em conta que é uma série, tenho esperança que todos esses aspectos sejam mudados nos próximos livros. Uma leitura prazerosa e um bom começo para aqueles que não estão acostumados com o gênero.

Série O Quarteto Doador

1. O Doador de Memórias
2. A Escolhida
3. Messenger
4. Son

SERVIÇO:

Título Original: The Giver
Autor: Lois Lowry
Tradutor: Maria Luiza Newlands
ISBN: 978-85-8041-299-4
Gênero: Ficção infantojuvenil americana
Páginas: 189
Editora: Arqueiro
Nota: 3/5
Estante: Skoob







0 comentários: