[Resenha] O Doador de Memórias
Confesso
que fico um pouco receosa quando o assunto é distopia, não me entendam mal, eu
gosto muito do gênero e talvez por isso seja tão chata em relação a ele. Quando
vejo uma distopia o cenário tem que me convencer, os elementos empregados têm
que ter um fator verossímil, uma crítica à sociedade plausível e poder ser uma
demonstração do futuro, exagerada, aumentada e catastrófica, mas ainda sim
passível de entender os meios que guiaram o destino dessas pessoas.
Com
O Doador de Memórias o cenário me ganhou, é possível entender todos os
mecanismos que levaram ao futuro demonstrado pela autora, a execução distópica
foi boa, mas seu aprofundamento deixou a desejar.
Neste
livro acompanhamos a história de Jonas, uma criança de 11 anos (prestes a
completar 12) que vive sobre as regras restritas de sua sociedade. Sua
realidade é cheia de regras e códigos de condutas, ele mora em uma unidade
familiar com pai, mãe e uma irmã designados (na verdade as unidades familiares
possuem basicamente a mesma estrutura), as pessoas vivem quase da mesma forma,
mudando poucas coisas, já que a sociedade não preza pelo diferente: todos
completam anos na mesma data, tem suas evoluções definidas por períodos, enfim,
estou aqui me matando para descrever uma sociedade apática, que vive para
cumprir os papéis que foram indicados a cumprir, e esse é todo o mundo de
Jonas. O garoto está prestes a passar pela sua cerimônia e se tornar um 12,
quando ele finalmente terá uma Atribuição escolhida e neste momento sua vida
toda irá mudar e ele irá descobrir a verdade por trás de sua sociedade
meticulosamente planejada.
O
livro é curto e a narrativa tem um ritmo bom e fluído, a autora apresenta todos
os aspectos da sociedade e os dramas que cercam os personagens, mas é aí que
fiquei um pouco decepcionada, ele apresenta bem tudo mas não se aprofunda, a
cenário criado por ela tem um imenso potencial, pessoas que vivem por regras
rígidas, tão apáticas sobre a vida (tanto que definem o lugar onde moram como
Mesmice), os cenários não possuem cores, as pessoas não possuem sentimentos,
enfim, há vários pontos que poderiam ser tratados mais de perto pela autora,
como relacionamentos inexistentes, amizades superficiais, famílias programadas
além do tratamento ao próprio personagem principal.
Assim
como a narrativa os personagens sofrem do mesmo mal, entendo que nos
personagens coadjuvantes não há muito o que explorar já que são rasos
demonstrando e incorporando o meio em que vivem, mas Jonas já é considerado
adulto e apto para um trabalho com apenas 12 anos e é escolhido para um dos
deveres mais difíceis e de mais responsabilidade de todos e mesmo assim a autora
não explora toda a complexidade tanto dele como do próprio Doador de Memórias.
Ah,
e para aqueles que, como eu, assistiram ao filme antes de ler o livro o final é
totalmente frustrante (na verdade acho que essa é a sensação para todos os
leitores, mas para aqueles que viram a adaptação a frustração é maior). Ps: não
concordo com a necessidade de adicionar no livro uma entrevista com Taylor
Swift (atriz do filme) comercialmente entendo que possa atrair mais leitores,
mas como obra literária não há grandes acréscimos.
Apesar
dos meus comentários anteriores ainda afirmo que por toda sua estrutura O
Doador de Memórias é uma distopia com um bom potencial, e levando em conta que
é uma série, tenho esperança que todos esses aspectos sejam mudados nos
próximos livros. Uma leitura prazerosa e um bom começo para aqueles que não
estão acostumados com o gênero.
Série O
Quarteto Doador
1. O Doador de Memórias
2. A Escolhida
3.
Messenger
4. Son
SERVIÇO:
Título Original: The
Giver
Autor: Lois
Lowry
Tradutor: Maria Luiza Newlands
ISBN: 978-85-8041-299-4
Gênero: Ficção infantojuvenil americana
Páginas: 189
Nota: 3/5
Estante: Skoob
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