A Queda

01:15 Milena Cherubim 2 Commentários

Conheci esse livro por intermédio do Danilo no lançamento do “Livro Branco” na Livraria Cultura. Ok, tenho que confessar. Não gosto do Mainardi, isso desde a época da faculdade. Não curto a coluna dele na Veja, mas... devo admitir ele me mostrou a sua outra face. Não essa que todos veem. Da pessoa ríspida, irônica e causadora. Mas o do pai, marido e protetor.
Você pode estranhar, mas nesta obra ele retratou o nascimento de seu filho Tito. História com crianças sempre mexe comigo. Mas essa é diferente. Tito tem paralisia cerebral. Ele nasceu em Viena em um hospital público chamado “Scuola Grande di San Marco” esse hospital foi projetado por Pietro Lombardo. É um prédio muito bonito e por isso a escolha.
O autor não gosta do Brasil. Já declarou inúmeras vezes. Contudo foi fora do seu país que o acidente médico ocorreu deixando seu filho mais especial. Uma enfermeira para adiantar o parto, pois era sábado no fim de seu plantão e não queria ficar a mais para o trabalho de parto, utilizou um instrumento chamado “amniotomo”. Esse ‘equipamento’ induziu o parto, mas não do jeito que a enfermeira achava. Ela conseguiu deixar o bebê sem oxigênio e isso acarretou a paralisia do Tito.
Para você compreender um pouco do enredo, o livro foi escrito em 424 partes, pois são as quantidades de passos que a criança anda hoje em dia. Nessas partes, fora a história de família, existe a história do local, de autores, pintores, arquitetos e contém imagens. Uma sacada boa na diagramação.
Mainardi escolheu o hospital por ser o mais bonito de Veneza. E ainda falou: “Com essa fachada, aceito até um filho deforme” (pág 5) e foi isso que aconteceu. Tito nasceu verde e desacreditado pelos médicos. Mas um pai não poderia deixar isso acontecer.


134 – Página: 54 Eu nunca cultuei Deus. Eu nunca cultuei o Homem. Passei a cultuar Tito. Passei a cultuar a vida doméstica. Meu evangelho é uma conta de luz. Meu templo é uma quitanda.Tito é o Todo. Um tomate é o Todo.

Essa é uma passagem que mostra como a criança é importante na vida do jornalista. Sim, após o nascimento de Tito, Mainardi parou de trabalhar para ficar com seu filho em tempo integral. Foram horas gastas com médicos, terapeutas, advogados tudo para resolver a vida de seu filho. Ele colocou em alguns artigos da revista Veja a vida de seu filho.

286 – Página: 105 Eu explorei a paralisia de Tito. Eu continuo a explorá-la.

Não gosto disso, mas neste caso eu aceito porque mostra como um erro médico pode acabar com a vida de uma família. Achei interessante quando diz que jamais voltaria para o Brasil, mas um médico lhe falou que para seu filho melhorar ele precisa de calor e areia. Para um deficiente a areia quando se cai não machuca tanto. Tito teve vários meios de transporte desde andadores para bebês até o andador que ele está hoje e o auxilia a dar os 424 passos antes de cair.
É abordado a era renascentista, Abbott e Costello, U2, Marcel Proust, Auschwitz, enfim... Mainardi superou minhas expectativas. Com o nascimento de seu segundo filho nascido no Brasil, Nico, Tito evoluiu. Não foi uma leitura fácil porque mexe com meu coração de mãe. Mas fecho essa resenha com uma passagem que me tocou bastante e está na quarta capa do livro.

Até aquele momento, eu sempre pensava que, se meu filho permanecesse em estado vegetativo, eu esperaria que ele morresse. Depois do primeiro contato com Tito no corredor do claustro do hospital de Veneza, tudo se transformou. Eu só queria que ele sobrevivesse, porque eu o amaria e o acudiria de qualquer maneira. Entre a vida e a morte, aferrei-me à vida.




Nota:


Serviço:

Título Original: A Queda
Autor: Diogo Mainardi
ISBN 9788501098504
Gênero: Literatura nacional
Páginas: 152
Editora: Record






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