O Diário de um Caçador

10:00 Milena Cherubim 0 Commentários


Título Original: O Diário de um Caçador
Autor: Ulisses Aguiar
ISBN: 978-85-7679-728-9
Gênero: Ficção – Literatura nacional
Páginas: 216
Nota: 3/5
Estante: Skoob
Onde comprar: Cultura / Submarino / Saraiva







Sinopse: Se for verdade que os melhores segredos se guardam por si mesmos, seria razoável pensar que existem, apenas, nos limites entre a realidade e a ficção. Silenciar o pensamento para melhor ouvir; fechar os olhos para enxergar; questionar para afirmar. Estes são os instrumentos do sábio que se atreve a desvendar as fronteiras de sua imaginação e de sua consciência, embora ciente de que jamais poderá encontrar algo que não existe; tal a beleza dos infinitos mares da mente. Percorrendo os quatro cantos do mundo, O Diário do Caçador remonta a uma tradição secular, pela qual homens e mulheres de notável saber transmitiam seus conhecimentos em manuscritos feitos a pena, inseridos em discretos cadernos de couro: os Diários. Este diário irá convidá-lo a desafiar limites e fronteiras em uma busca pelo papel fundamental que o ser humano desempenha para consigo mesmo, para com seu próximo e para com o planeta como um todo.




Comentários:

Conheci o Ulisses no Fantasticon de 2012, achei curiosa a capa e com esse autor que ainda não tinha visto no burburinho literário. Posso afirmar que de iniciante Ulisses não tem nada. Seu texto é marcado por uma narrativa impecável. É bom deixar claro que não é uma leitura fácil. O vocabulário é de uma riqueza fabulosa.
A história é uma distopia. Jamais imaginei ler uma distopia nacional boa e ainda de um autor iniciante. Para quem não conhece o termo, distopia, é um gênero criado a partir do fim de tudo o que conhecemos. As distopias que li foram Jogos Vorazes, Em Chamas, Esperança, Caminhos de Sangue e Destino. Só posso dizer que todos são diferentes entre si.
Em O Diário do Caçador você se sente dentro de um diário mesmo. E sente parte desse mundo criado. As descrições são ricas e bem detalhadas, chegando algumas vezes serem desnecessárias.
O livro é dividido em três partes. Na Primeira Parte é deixado bem claro a que veio. Mostra-se um cenário que será desmembrado mais a frente. Os personagens desse livro são os Talhados. Seres humanos que possuem dons. Alguns leem mente outros se conectam com a natureza para curar os enfermos. Todos em um único propósito. Ficar bem consigo, assim podendo ajudar o próximo.
Fora o lado bom, existe também o dark side. O lado dos Talhados da Perdição. Eles possuem os mesmos dons, mas os usam para agredir, matar, prejudicar os humanos, animais e plantas. Tudo no mundo é ligado aos elementos e os elementos ligados ao humano que possui o dom.

Atendendo ao velho, o timoneiro, um alemão, fechou os olhos, respirou profundamente e, sentindo seu corpo inteiro ser percorrido uma espécie de corrente elétrica, dos pés a cabeça, e da cabeça às mãos, reabriu os olhos, os quais, desta vez, luziam como um par de safiras extraídas do próprio berço estelar. Ele via com total e plena clareza, todas as estrelas do céu se ligarem por brilhantes cordões dourados de forma a comporem a orientação desejada. Sua consciência já havia chegado a Sharkat. (pág.17)

Essa é a sensação de como um dom é utilizado. A passagem descrita é a ida até Sharkat, onde os recrutadores levaram os sobreviventes para estudar e se aperfeiçoar. Interessante na passagem da primeira parte para a segunda é que tudo tem ligação. O que você acredita ser eventos paralelos, na verdade eles estão interligados.
E assim é apresentado o nosso personagem principal. O Caçador. Um garoto que não sabe o que é, perdeu sua mãe, seu pai sumiu e a ‘madrasta’ não é o que ele pensa o que é. E claro o novo mundo não é perfeito, mas os Talhados tentam deixa-lo melhor.
O Caçador é um personagem envolvente, mesmo sendo só um garoto ele consegue ser curioso e ao mesmo tempo tem uma capacidade de escutar e absorver o que lhe é falado.
Gostei bastante da Ksenia a Talhada do Manto do Cartógrafo. Ela percebe todo o ambiente que está e pode levar para qualquer lugar. Outo personagem marcante é o pai do Caçador, o Inglês. Após ele ficar cego pela ‘madrasta’ e ser jogado em uma ilha onde só existem bichos ele conseguiu unir seus instintos com os dos animais. O Inglês consegue ver através dos bichos, o que eles veem e ouvem o Inglês também vê e ouve. Esse personagem é um dos meus favoritos.
Para entender o livro você tem que se deixar levar pela história. Tem que viver os dramas, as vitórias, deixar o cenário reconfortante e tranquilizador dos locais.

Doar frações de tempo, algumas palavras, um sorriso ou um abraço, pode fazer um coração tão feliz quanto o sorriso da areia da praia ao ver que o mar não se esqueceu dela, refrescando-a do calor do sol, ainda que por alguns instantes. Momentos tão preciosos quanto contemplar o rastro de uma estrela cadente.  (pág. 214)

O livro não é de autoajuda, mas nos mostra algo bom e descente que deveria ser a humanidade. Como e por que fazer o bem é o melhor caminho para mudarmos o mundo em que vivemos.  










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