[Vintecinco Versos #7] A canção do africano

11:30 Daniele Vintecinco 0 Commentários



No último dia 14 desse mês foi comemorado o Dia Nacional da Poesia, a data foi criada para dar o devido reconhecimento à poesia nacional em sua vasta e rica extensão, e o dia foi escolhido em homenagem ao poeta Castro Alves, com isso decidi que o Vintecinco Versos deste mês também seria sobre ele. 
Integrante da terceira fase do Romantismo, Castro Alves foi conhecido como poeta dos escravos por suas poesias de alto cunho social, mas sua obra é mais extensa abrigando outros temas em seus versos. Um de seus trabalhos mais conhecido é o poema Navio Negreiro, mas decidi trazer outro de mesmo tema para retratar sua luta contra a escravidão. 

A canção do africano

Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão ...


De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!


"Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!


"0 sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!


"Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar ...


"Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro".


O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!


............................


O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.


E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!



Castro Alves  (Curralinho, 14 de março de 1847 — Salvador, 6 de julho de 1871). Desde criança conviveu em um ambiente literário. Após publicar seu primeiro poema sobre a escravidão,  A canção do africano, foi acometido pela tuberculose. Ao viajar para o Rio de Janeiro teve contato com José de Alencar e Machado de Assis. Retornou  para Salvador após sofrer um acidente e ter o pé amputado, onde faleceu com apenas 24 anos. 


Curiosidade: Castro Alves é patrono da cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras


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