Eric Novello – Ninguén nasce herói

23:54 Milena Cherubim 2 Commentários




Hoje, dia 05 de julho de 2017, é uma quarta-feira e cá estou com um frio da pleura às 21h resenhando. Mas tem um ótimo motivo. Eu realmente precisava compartilhar esse livro com vocês.

Eu AMO o Eric Novello. Como pessoa e como escritor. Então fiquei muito contente quando recebi um e-mail da Diana da Editora Seguinte avisando que em breve eu receberia a prova do novo livro dele chamado “Ninguém nasce herói”.  

Sempre quando pego um livro novo sinto aquele medinho de não gostar ou de não entender o que o autor quis dizer. Sim, às vezes tenho pra mim, que alguns livros não foram feitos para minha pessoinha. Eu não sou versada em política. Quando as pessoas começam a discutir sempre chega ao ápice de se agredirem seja verbalmente ou fisicamente e isso me irrita muito. As pessoas não sabem escutar, só querem que sua opinião seja a "vencedora da discussão". Não que não devemos falar, pelo contrário. É importantíssimo que seja discutido, ouvido as partes, filtrado o que é melhor para todos e não para uma minoria (os mais abastados).

Então imagine quando li a sinopse (gente eu geralmente não leio a sinopse. Vejo a capa, o autor – se eu gosto dele então... nem vejo mais nada – e só se algo me chamar atenção que leio, sim sou dessas) e vi que tinha muito sobre política. E este livro traduz um espaço de tempo que tivemos, que temos e que teremos(?) no Brasil ou porque não dizer no mundo? Um tempo meio distópico, de algo que poderia vir a acontecer. É um assunto muito pertinente aos jovens e adultos. A política, a religião, as crenças, as diferenças e até mesmo as nossas escolhas.

Ninguém nasce herói deveria ser uma leitura obrigatória em todos os colégios no Brasil, para mostrar o que se pode acontecer e até mesmo ajudar aqueles que estão passando por alguns momentos parecidos com as personagens.

Bem, quem são as personagens, Milena?


Temos uma Milena, mas isso não vem ao caso ela não é a personagem principal... tem um momento importante, mas só rs Vamos conhecer quem nos acompanhará pela história:

Chuvisco: sim, este é o nome que ele escolheu e é conhecido por ele. Ele é o nosso protagonista. Chuvisco é um cara que fez letras, trabalha como tradutor, tem apenas cinco amigos e os ama de paixão. Mataria um boi por eles.

Meus anos de terapia me ensinaram três coisas: primeiro, tenho uma tendência a tentar controlar situações que não estão sob meu controle; segundo, eu faria qualquer coisa pelos meus amigos, qualquer coisa mesmo; terceiro, minha relação com a realidade é ligeiramente diferente da mantida pelo restante das pessoas.  (pág. 8)

Ah! Ele tem “catarses criativas”, ele enxerga outras realidades. Tartarugas gigantes que causam terremoto, borboletas, armadura para lutar contra o sistema.  Essas coisas.

Pedro: é gay. Debochado. Lindo. Super descolado. Sou apaixonada por ele. Todo mundo tem um amigo Pedro na vida. Seja ele homem ou mulher. Ele é aquele que quando está no recinto não te deixa triste. Ele faz a festa acontecer.

Amanda: meiga, mandona, está estudando para ser uma documentarista. Gosto dela. 

- Quem ele pensa que é pra mexer com meu irmão? A sorte é que tô aprendendo a meditar, senão tinha dado na cara dele.- Essa aí é um exemplo de pessoa zen – diz Cael.- Fez quantas aulas já?- Uma.- Imaginei – comento.  (pág. 24)

Hahah viu? Ela é fenomenal!

Cael: ator. Negro. Muito fofo. Super protetor e irmão de Amanda. Utiliza de seu status como pessoa conhecida para lutar contra o sistema. Ele mantém um teatro funcionando e vai distribuir livros com Chuvisco e Amanda.

Gabi: estudante de medicina e ajuda Chuvisco com algumas questões. Gostei dela. Ela é amiga, protetora, ajuda pessoas que estão em conflito com suas famílias em uma ONG.

Dudu: te odeio, volta Milena, volta. Pronto, voltei. Eduardo era amigo de Chuvisco desde a adolescência, mas ele foi tão canalha que sumiu, desapareceu da sua vida e reapareceu quando uma das meninas o trouxe para o grupo fingindo não conhecer mais o amigo. Um cara chato pra porra. Mas tem um papel importante no enredo. Até dou um desconto para ele. Mesmo assim... te odeio -_-

Junior: menino trans que foi agredido e Chuvisco o ajuda, com isso o garoto fica louco para saber o paradeiro dele, pede ajuda para Pedro pra encontrá-lo. Gostei dele, mas me falou algo... não sei o quê.

Esses são as personagens mais importantes da trama. Com eles é que acontece toda a aventura. 

Imagina um Brasil tomado por um idiota que acredita piamente que a cultura é algo ruim, que os diferentes merecem arder no mármore do inferno, que a intolerância é algo útil (só se for pra ele). Onde um simples gesto de distribuir livros é visto como algo errado. E é assim que a nossa história começa.

Chuvisco vai se encontrar com Amanda e Cael em uma praça para distribuir livros para quem quiser receber. O livro em questão é o Rani, de Jim Anotsu. (Sim, este livro realmente existe, adoooooro quando os escritores nos indicam livros) E os garotos são parados pela polícia, isto é, às 7h da manhã. Ninguém merece né? O policial começa com graça, fazendo perguntas e querendo encrenca. A policial que está com ele, já conhece os meninos e até lê os livros que eles distribuem, consegue fazer com que seu parceiro esqueça a história e vão embora. Mas claro algo tem que acontecer, não é mesmo? Cael se estranha com o homem. Só porque é negro. E sua irmã entra na discussão. Amanda é branca. O policial acha estranho, mas sua parceira faz com eles vão terminar sua ronda.

Para comemorar eles vão para um bar chamado Vitrine que fica na Augusta. Lá se encontram com os amigos e assim eles nos são apresentados. O livro é narrado pela perspectiva de Chuvisco. Nele conseguimos visualizar as cenas que a personagem nos transmite. Isso é importante, pois já na saída do bar, ele está levemente alcoolizado e é onde a magia acontece. Chuvisco escuta um grito de socorro. Ele poderia ter deixado para lá... como todos fazem neste país, mas ao olhar de onde vem os gritos ele vê homens agredindo um rapaz.

Junior está caído no chão e sendo massacrado pela Guarda Branca, um grupo extremista que é contra o diferente. Gays, lésbicas, trans, negros... já deu pra ter uma ideia de como são. Acredito que muito parecidos com a KKK (Ku Klux Klan) só que apenas um pouco mais aprimorada.

Eles têm carta branca do Escolhido (gente vou te contar uma coisa... se tem uma personagem neste livro que ganha a minha raiva e o meu ódio é esse. P@#$%&* que homem ridículo. Ele ganhou as eleições e é o novo presidente. É este senhor que incita que os diferentes não são obras de Deus e sim do demo). Se parece com algum que você conheça?

Pois bem, voltemos à história. E vendo o rapaz caído, Chuvisco vai acudir. Lembra que ele está meio bêbado né? Então... que viagem!

(...) desabotoo a camisa, casa por casa, e aperto o botão no meu peito. A estrutura presa nas costas se ativa. Desliza para os braços, reforça a articulação dos cotovelos. Em seguida, envolve minha caixa torácica, acompanhando o desenho das costelas e a curvatura do peito, fechando-se em um anel amarelado na altura do coração. (...) (pág. 62)

Já deu pra perceber que ele é mega fã de quadrinhos né? Seu terapeuta era o Dr. Charles. O psicólogo estava numa cadeira de rodas, então imagina o garoto pensando nele como o Charles Xavier, Dr. X hehe eu me diverti muito com as viagens dele.

Este garoto que ele salva chama-se Junior e ele some. Desaparece da face da Terra. Chuvisco pede ajuda para seus amigos, pois quando ele foi defender o garoto, apanhou muito e teve que ser levado para o hospital. Ai fica se perguntando o que era real e o que era imaginação?

Lembra dos mascarados de um tempo atrás? Aqui também temos. Santa Muerte é um grupo que expõe as coisas erradas que acontecem no Brasil e estão sempre contra o Escolhido e sua corja de assassinos. E uma integrante da Santa Muerte encontra Chuvisco no hospital e o avisa que ele corre perigo. Será que isso aconteceu de verdade? Não tem como saber... não com as catarses dele. Ele viu uma menina com a cara parecendo as caveiras mexicanas falando com ele. Eu se escutasse isso, falaria que era coisa da cabeça dele. Mas... vai saber né. 

Fora as catarses, Chuvisco mantinha um canal denominado Tempestade Criativa. Seu terapeuta disse que ele precisava escrever sempre que tivesse um surto, um sonho ou mesmo algum episódio que desencadeou a ansiedade. Em vez de escrever, fez vídeos. E isto ajudou algumas pessoas e a ele mesmo. Pois pelo tempo que ficou fazendo, Chuvisco conseguiu se manter são. 

Uma das coisas que achei bem bacana neste livro foi a construção das personagens. Elas são fortes, mas ao mesmo tempo cheios de conflitos. Querem ser aceitos por uma sociedade que só os maltrata e mesmo assim eles tiram uma força de não sei onde, não... acho que sei sim. Eles tiram força deles próprios. Dos amigos. Eles são fortes por eles. Juntos são invencíveis.  

O que você vai encontrar neste livro?


Relações homoafetivas, relações héteros, discriminação (fazer o que... o mundo ainda é muito errado), companheirismo, ajuda ao próximo, amizade, amor e heroísmo. E muitas viagens e sim... músicas, não podemos esquecer das músicas. 

Ninguém nasce herói nos mostra que qualquer pessoa pode e deve fazer a diferença. Seja com uma palavra amiga ou com ações compartilhadas para aqueles que precisam. Todos somos super-heróis de alguém!

Obrigada Eric por me mostrar o mundinho do Chuvisco. Eu ri, eu chorei, eu me importei com os amigos e eu aprendi. Aprendi muito. Acredito que os livros são portadores de janelas para o aprendizado. Cada livro nos traz uma situação que devemos entender e passar a diante. Ninguém nasce herói veio em um momento propício. Por isso, dia 7 corram para as livrarias e já comprem o livro. Ele merece muito ser lido e discutido.


SERVIÇO:
Título:  Ninguém nasce herói
Autor:  Eric Novello
Tradutor: Carolina Caires Coelho
ISBN: 978-85-5534-042-0
Assunto:  Ficção norte americana
Páginas: 384
Editora: Seguinte
Nota: 5/5


Sinopse: Num futuro em que o Brasil é liderado por um fundamentalista religioso, o Escolhido, o simples ato de distribuir livros na rua é visto como rebeldia. Esse foi o jeito que Chuvisco encontrou para resistir e tentar mudar a sua realidade, um pouquinho que seja: ele e os amigos entregam exemplares proibidos pelo governo a quem passa pela praça Roosevelt, no centro de São Paulo, sempre atentos para o caso de algum policial aparecer. Outro perigo que precisam enfrentar enquanto tentam viver sua juventude são as milícias urbanas, como a Guarda Branca: seus integrantes perseguem diversas minorias, incentivados pelo governo. É esse grupo que Chuvisco encontra espancando um garoto nos arredores da rua Augusta. A situação obriga o jovem a agir como um verdadeiro super-herói para tentar ajudá-lo — e esse é só o começo. Aos poucos, Chuvisco percebe que terá de fazer mais do que apenas distribuir livros se quiser mudar seu futuro e o do país.

2 comentários:

  1. Oi, Milena.
    Venho acompanhando esse processo de publicação do livro do Eric há um bom tempo e fico feliz que finalmente esteja nas livrarias. Ainda não sei bem se é meu tipo de leitura, mas vou pensar com carinho!
    Adorei a sua empolgação com o livro!
    Beijos
    Camis - blog Leitora Compulsiva

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  2. Oi Mi, não li nada do Eric ainda, apesar dos elogios que você sempre faz. Adorei este enredo, e deu para notar inúmeras semelhança com o nosso dia a dia, infelizmente. A mensagem contida no enredo é ótima e verdadeira, até porque ações fazem mesmo a diferença, para o bem e para o mal.
    Bjs Rose

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