[Vintecinco Versos #5] Quando eu morrer quero ficar

14:00 Daniele Vintecinco 0 Commentários



Como o Vintecinco Versos desse mês caiu bem no dia do aniversário de São Paulo queria lembrar também na poesia uma homenagem para essa cidade, que apesar de todos os seus problemas (e são muitos) é onde mora meu coração. 
E com isso fui buscar em um poeta que sempre exaltou São Paulo uma de suas poesias que mais gosto.    

Quando eu morrer 

Quando eu morrer quero ficar, 
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade, 
Saudade. 

Meus pés enterrem na rua Aurora, 
No Paissandu deixem meu sexo, 
Na Lopes Chaves a cabeça 
Esqueçam. 

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano: 
Um coração vivo e um defunto 
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido 
Direito, o esquerdo nos Telégrafos, 
Quero saber da vida alheia, 
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade. 
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.


Neste poema Mario de Andrade faz um “testamento” e pede para que partes de seu corpo sejam deixadas em certos lugares da cidade, alguns marcaram sua vida pessoal, outras são representações do dia a dia metropolitano e outros tem um valor  histórico, como: a rua Aurora, onde o poeta nasceu; o largo do Paissandu, local em que havia casas de prostituição; a rua Lopes Chaves, onde Mário viveu a maior parte da vida; o Pátio do Colégio, local de fundação da cidade de São Paulo; o Ipiranga, bairro em que a Independência do Brasil foi proclamada; o pico do Jaraguá, ponto mais alto da cidade.


Mário Raul de Moraes Andrade (São Paulo, 9 de outubro de 1893 — São Paulo, 25 de fevereiro de 1945): um dos pioneiros da poesia moderna brasileira com a publicação de seu livro Pauliceia Desvairada em 1922, foi um dos integrantes da força motriz por trás da Semana de Arte Moderna, evento ocorrido em 1922 que reformulou a literatura e as artes visuais no Brasil. Autor de um dos romances modernista mais conhecido, Macunaíma.


Curiosidade: Em 1960 a Biblioteca Municipal de São Paulo recebeu o nome do poeta em homenagem a sua trajetória, sendo hoje a Biblioteca Mário de Andrade, localizada na Rua da Consolação, em São Paulo. 


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